Não sei que se passa, estes tempos são estranhos
Vejo cada vez mais carneiros a seguir em rebanhos
Em servilismo cego, imbuídos no materialismo
Descem em apneia rumo ao escuro do abismo
Espiritualmente escravizados por drogas e modas
Como se estivessem entrevados em cadeiras de rodas
Hipnotizados pelo encantador de serpentes
Entes dormentes transformados em clientes
De centros comerciais, que aceleram os nossos ritmos
Gajos morrem aos trinta com ataques cardíacos
Ceifados desta vida na flor da idade
Deixando para trás rasto de dor e saudade
E é realidade, não é enredo dum filme
D’Hollywood daqueles que ilude e deprime
Nós caminhamos nas brasas deste mundo de farsas
Que’é que se passa? É a toxicomania das massas
Depressão, é a nova epidemia urbana
A pressão é tanta, nem apetece sair da cama
São famílias enterradas em anti-depressivos
Terra dos mortos vivos em estados vegetativos
Os mais antigos vêem os seus futuros esquecidos
Com alzeihmer em busca dos ficheiros perdidos
Excluídos deste sistema do pragmatismo
Deixam de ser rodas dentadas do mecanismo
Os média instigam o nosso negativismo
Sondagens apontam para um maior pessimismo
E a culpa é da crise e do aumento do défice
Antes vivesse no país das maravilhas d’ Alice
Longe dos aduladores e da sua bajulice
A ficção é bem mais real do que esta aldrabice
Sinceramente é melhor alguém tomar o comando
E se não tu? Quem? E se não agora? Quando?
Passa-se algo estranho neste mundo bizarro
Avaliamo-nos, pela potência do carro
Endividamo-nos, e isso sai-nos bem caro
Falcatruamos, viva o sigilo bancário
A ignorância transforma-nos em burros com palas
É letal como balas duma roleta russa
Alegamos cabalas, cavamos as nossas valas
No fim, há sempre uma mãe que soluça
Vejo tantos hedonistas com posturas imaturas
Querem prazer imediato como ninfomaníacas
Assanhadas que bebem poções afrodisíacas
E acabam flagelados por drogas duras
Como hipocondríacos em busca de falsas curas
Serão os sinais dos tempos a passarem facturas?
Prometem-nos a panaceia para todos os males
A troco de dares o máximo e mostrares o quanto vales
Refrão:
Tu és um número, esquece o teu nome
Obedece sempre que a voz pede consome
Come, bebe, fode, dorme
Trabalha, veste o uniforme
Liga a televisão, atende o telefone
Nada questiones, segue o cicerone
Não é á toa o meu tom de sarcasmo
Acorda, sai já deste marasmo